Hoje ouvindo o programa na Band News em homenagem ao Boechat, o que era apresentado por ele, ouvi o Barão ler um texto que ele mesmo (Barão) escreveu como forma de continuar a “tocar o barco”. Ele disse que no dia anterior não conseguia dormir e resolveu escrever para desabafar.
Escolhi fazer o mesmo. Ainda que nem de longe meu sentimento seja igual ao do Barão, mas mesmo tão longe eu senti muito. Tanto que até estranhei. E por muitas vezes, quando algo me perturba, eu escrevo. Para aliviar um pouco, para ter a sensação de que compartilhei minha angústia, ainda que não seja tão certo que alguém me lerá. Na maioria dos casos, meus desabafos ficam num caderno.
Há quase 1 ano não escrevia aqui no “Livrinho”. Hesitei em desabafar “publicamente” sobre o incômodo e a tristeza que a morte de alguém que eu nem conhecia, que nem sabia que eu existia me causou. Hesitei por vergonha: as pessoas vão me achar ridícula. Mas me encorajei à medida que, ao longo do dia, eu li e vi comentários de outras pessoas, que assim como eu, se entristeceram por perder um amigo que se quer nos viu algum dia.
Ontem quando vi a noticia postada no Facebook tive como primeira reação achar que era fakenews, uma vez que nenhum veículo de comunicação tinha informado também. Em questão de minutos, conforme eu ia freneticamente atualizando as páginas, confirmei que de fato o Boechat tinha falecido num acidente. Meu olho encheu de lágrimas e por vergonha de chorar em público por um “desconhecido”, me contive.
Mas, assim que fiquei sozinha no carro na volta para casa, ouvindo depoimentos de outros jornalistas no rádio, chorei. Chorei de verdade. Nunca vejo coberturas de tragédias, fatalidades, acidentes nos noticiários. Sendo bem sincera, nem vejo jornal porque me faz mal, diante de tantas notícias ruins. Mas ontem eu assisti. Assisti ao Jornal da Band que fez uma linda homenagem a ele, chorei vendo. E hoje, ao ouvir o programa que eu ouvia todas as manhãs, me emocionei muito de novo. O programa abriu com a voz dele, fazendo a abertura como sempre fazia. E eu em voz alta disse para mim mesma “É inacreditável que esse cara tenha morrido”.
Mas morreu. Assim como ele, tantos outros. O piloto do helicóptero, por exemplo. Uma outra família também perdeu um pai, outras pessoas perderam um amigo de trabalho. Eu nunca vi o Boechat na vida, mas há anos eu o ouvia diariamente. Inúmeras vezes foi com ele que entendi situações políticas, discussões, consegui enxergar os fatos por um outro ângulo. Em outras, eu pensava “Que exagero!” ou então “Nada a ver o que ele está dizendo”. Mas em incontáveis vezes, eu ri com ele sozinha no carro. Ri de gargalhar. E se tem uma coisa que eu aprecio nessa vida é quem me faz rir. Ele tinha o humor carioca, desbocado, zoador, com s ainda chiado. E por essa razão, me convenci de que não fiquei tão triste por um desconhecido. Ele não era um desconhecido, ele era meu companheiro de todas as manhãs, há muito tempo.
Fui dormir ontem confortada pela certeza de que eu não sou daqui, de que embora pareça uma fatalidade, não é. Não existe fatalidade para Deus. Nada foge ao seu controle e tudo que acontece está rigorosamente sob o seu comando. É nisso que creio. Tenho a convicção de que o lugar onde passarei a eternidade não haverá choro. A sensação de que a vida é um sopro é angustiante, mas como não há nada que possa mudar esse tempo aqui, temos que aproveitar e viver nesse tempo a vida em abundância que Deus nos prometeu. Paradoxalmente, concluo o texto sobre a tristeza que a morte de um ateu me causou, falando de Deus. Deus é assim. Ele governa sobre tudo!
E “toca o barco” – como diria o próprio Boechat.